Opinião

Gestões d'hospício - 5

Por Paulo Rosa

Hospital Espírita, Caps Porto, Telemedicina PM Pelotas

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Sobre práticas terapêuticas, senso lato, nas ações em hospícios. Mostra-se útil no dia a dia hospitalar a visão de que somos - todos, sem diferenças profissionais ou sociais - muito sensíveis à intervenção do outro. Não é à toa que a síntese da psicanalista M.G. Rota, "respeito e boa educação é metade de uma terapia", segue pertinente para quaisquer das numerosas formas de psicoterapia, sendo visível cotidianamente seu efeito integrador. Ao darmos acolhimento e/ou ao sermos acolhidos, por modesta que seja a intervenção, abre-se na mente dos envolvidos uma predisposição, uma tendência ao encontro, cujo efeito é benéfico para ambos.

Esta reciprocidade simultânea é o elemento chave. É provável que a sensação de confiança mútua que se instala seja como a chama que aquece uma amizade potencial. Mesmo que esta não venha a se consolidar, é como o esboço de um desenho que poderá se transformar em uma pintura. Um passo inicial, um gesto primeiro, uma brisa que afaga e surpreende. O futuro do que virá é desconhecido, mas esse gesto inaugural é decisivo e pleno de possibilidades. É o máximo conteúdo possível para o momento, e isto é o que importa.

A ideia central é dar de si o melhor e o máximo possível, seja para consigo próprio, seja para com o outro, ainda que em momentos mínimos.  Isto nos leva ao cerne deste artigo. Refiro-me à ação terapêutica desenvolvida pelo Serviço de Nutrição do Hospital Espírita de Pelotas (HEP) junto aos usuários da instituição. A intervenção começa pela escolha do cardápio diário variado e nutricionalmente concebido, pelo preparo esmerado, incluindo aí a apresentação, o aspecto visual dos alimentos, o número de refeições a cada dia - cinco refeições. Em complemento, a apresentação da equipe do setor, desde o cuidado impecável com os uniformes bem como o gesto acolhedor ao distribuir as refeições, proporciona aos usuários - pelo caráter estável e continuado ao longo da internação - a possibilidade de um conforto emocional suficiente para abrir caminho e facilitar o trajeto das intervenções médico-psicológico-praxiterapêuticas e de enfermagem.

Ninguém subestima o impacto de uma internação em hospital psiquiátrico, mas ela pode se tornar indispensável quando o usuário corre risco de vida, para si próprio e/ou para os circunstantes. Nessa condição de exigência é que atua, em consonância com a equipe de saúde, o caráter terapêutico inerente à ação do setor de nutrição, acima explicitado, buscando atenuar o sofrimento emocional da doença e estimular ao máximo a eficiência terapêutica do conjunto de ações hospitalares.

A humanização indispensável dos serviços de saúde, psiquiátricos ou não, asilares ou não, tem nessas ações específicas de serviços nutricionais, um suporte eficaz e contemporâneo, como sintetizado no livro Nutrição em Psiquiatria, 2021, de Kachani & Cordás. Vale a consulta.

Novos tempos, novos horizontes.

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